sexta-feira, 28 de março de 2014

Contos do Amante da Morte [Semana 01]

Autora: Mari-Youko-Sama
Prelúdio: Lembranças desbotadas

“Condena-me porque estou morto mais continuo a caminhar? Já sou uma criatura condenada meu caro, mas posso lhe afirma que sinto mais sutilezas que qualquer ser que vive... ”

Naquele momento agonizante eu estava em um ambiente sem distinção de alto ou baixo, um local sem sons ou ruídos além da minha própria respiração, uma zona onde não havia nada a não ser a dor aguda que tomava meu corpo por inteiro. Esta que deu lugar a um prazer irracional e em seguida ao desespero do desconhecido, o cheiro inconfundível da morte que me impregnava era docemente amargo e consequentemente inevitável.

Seu abraço tornou-se tão próximo e tão distante, o toque gélido que acariciou minha pele não mais tão quente, mostrou-me os sinais remanescentes do calor que se esvaiu de mim e pouco a pouco o que ocupava seu lugar era um êxtase incontrolável.

Sentimento esse que aos poucos me devorou e consumiu até não restar uma única ponta de minha sanidade:

 – O que será de mim agora?... O que fez comigo afinal? –

Mendiguei com a fala uma resposta, embora as palavras se embaralhassem em minha língua dormente, o corpo já sem calor se movia relutante e desengonçado, erguendo um olhar confuso para o nada ao meu redor, buscando a quem culpar.

– RESPONDA – ME! –

Vociferei como um animal acuado em meio aquele breu enlouquecedor e minha resposta foi um silêncio sepulcral, como se verdadeiramente estivesse sozinho, e aquele momento parecia durar por toda a eternidade.

Mas, eu sabia que não estava só, nunca estive, aquele olhar faminto que me vigiava dia a após dia, desde que nasci finalmente tinha se aproximado o suficiente para poder se apossar do que queria.

Naquele instante após a vida sumir de meu ser, eu tinha plena consciência de que não era mais eu, não pertencia mais a mim, sou daquele ser que fareja o medo, que traga o calor, e que dali por diante era dono de minha coleira por toda eternidade.

Me lembro daquele último dia, lembro-me vagamente do como eu era, quando meu coração ainda batia e eu podia sentir a temperatura de minha pele.

Guardei essas lembranças que se desbotarão de minha memória, tornando-se uma mancha indelével sem forma ou valor, estas que carregam consigo aquele pouco do que eu tinha que se perdeu e não mais voltará.

Para aqueles que lerão essas linhas escritas com meu sangue enquanto ele mantinha a cor carmesim, deixo-lhes este humilde legado, de alguém que tão vivo como um sol que nasce de manhã, também se acaba ao entardecer frio dando lugar as sombras vertiginosas da noite:

“A morte não é o fim de tudo, muito menos um descanso eterno, eu estou morto mais continuo cansado e muito longe de enxergar o verdadeiro fim.”


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