sexta-feira, 28 de março de 2014

“SentiMente” [Semana 01]

Autora: Silvia Verlene
Implantação

2.076...
No céu, imagens de diversas propagandas mesclando-se em um caleidoscópio de bits entrelaçados. Arranha-céus com linhas invisíveis conectando informações aleatórias em velocidade quase incontável; nas avenidas, hologramas edificados em proporções exuberantes de um trânsito caoticamente arrumado em linhas coloridamente luminosas; nas calçadas, projetos humanos perambulando, atravessando-se mutuamente, sem nenhuma preocupação aparente. A cidade em sua face seca e fugaz, de ciborgues com desconhecidas origens e destinos. De “carne”, pouco se vê e raramente se toca. O mundo é mais quadrado que redondo, em que chips de todos os tamanhos e funções produzem a existência atual. Aquilo que se pensava impossível para alguns, tornou-se realidade: a Emoção cedeu lugar à Razão em uma porcentagem inacreditavelmente desumana – 90% de Metais, Plásticos, Fibras Óticas, Carbono e tantos outros elementos e materiais.

Afora o calor gerado pela transmissão energética produzida pelas superfícies eletrônicas compositoras do ambiente artificial ao redor, tudo é muito frio. Frio este que se torna ainda pior devido aos inúmeros pontos de escapamento da massa de aquecimento para o exterior do “Domo Residencial”, tornando o lado externo do domo uma ilusão. Apenas os sentidos antes “naturais” acessam o que hoje é denominado de “mundo perfeito”. Não há mais contato carnal de nenhuma natureza... Como disse, algo impensável há poucos anos atrás... O que as tão conservadoras e mesmo inovadoras religiões e filosofias pregavam até o início do século, foi derrubado por um único evento ocorrido em 2.015, o ironicamente denominado “Movimento Implantário”, plagiando a própria História da Humanidade.

Seu objetivo foi extrapolar o que a evolução humana tanto almejava: sua perfeição! Não houve resistência duradoura para isto, afinal, a Tecnologia foi a criação mais efetiva e bem usada pelos antigos humanos, os quais, apesar de, e principalmente por temerem sua extinção, chegaram a este ponto. O conceito “ciborgue” tornou-se mais que uma simples realidade – alcançou a única existência. Daí o nome “Ciborgan”, amálgama elevado de um reles humano ao que hoje rege a existência. É fato compreensível que, em meio a toda essa mudança, o primordial da sociedade humana e uma quantidade significativa desta pereceu. Porém, uma coisa é inegável: a simplicidade da visão de mundo linear é tanta que a manutenção da ordem é um avanço incontestável conquistado pelos Implantários.

Em meio à lembrança desta realidade, vem aquilo que conheci no “Domo Inferior”, de onde fui retirado por Ciborgan RS-3, como “dor” e minha visão embaralha ainda mais as aleatoriedades ao meu redor. Balanço minha cabeça, porém a dor só piora... Apoio-me no metal frio do braço direito RS-3 enquanto meus pés se confundem e impedem meu equilíbrio. RS-3 me apoia, enquanto me sinto pesado e tudo escurece.


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