sexta-feira, 28 de março de 2014

Requiem [Semana 01]

Autora: Natalie Bear
Navegantes

Na noite iluminada pela luz da lua, uma jovem escondia-se em um canto escuro. Com espanto no rosto redondo, a garota puxou debaixo da gola branca um relicário e o abriu, revelando a foto de um senhor com óculos de aro redondo e bigode escuro imponente.

- Não sei o que fazer. - cochichava para a foto - Acho que me seguiram. - abraçou a bolsa de couro que carregava consigo.
- Woof!
- Um cachorro? No navio? - ela tirou a cabeça para fora do esconderijo e procurou pelo animal.

No corredor entre o parapeito e uma parede de aço visualizou a silhueta do animal se aproximando. A moça, amedrontada pela possibilidade do animal estar perseguindo-a, encolheu-se naquele canto escuro e enterrou o rosto na bolsa, desejando o fim daquele pesadelo. Começava a se arrepender profundamente de nunca ter avisado seu tio que iria embarcar nesta viagem tão arriscada e sem garantias.
Os pensamentos foram interrompidos por um bafo quente que tocou seu pescoço e a fez saltar, quase jogando a bolsa para longe.
O cachorro sentava-se ao lado dela, observando-a em silêncio.

- Ca-ca-cachorro! Por favor, não me morda. - suplicava apavorada, com olhos lacrimosos. Voltou a se espremer contra a parede do navio e cobriu-se com a bolsa, que era grande o suficiente para faze-la sumir ali atrás.

Nada aconteceu. A garota levantou a cabeça, confusa, percebendo que o animal preto e branco continuava ali, a encarando e abanando o rabo.

- V-Você está perdido? - com muita cautela esticou o braço trêmulo em direção ao cachorro, tocando os dedos no focinho branco do animal e recolhendo a mão instintivamente quando ele moveu-se para lambe-la.

Segundos depois a amedrontada mocinha reuniu novamente coragem para afundar seus dedos no espesso e macio pêlo do pescoço do animal e o acariciou - Cachorro bonzinho... - esboçou um sorriso em seu semblante assustado.

- Xerife! - repentinamente uma voz rouca se espalhou pelo ambiente e fez o coração da moça bater tão forte que lhe paralisou naquele momento.

Ela podia ouvir os latidos se distanciando.
Tão logo o animal saiu de perto da estranha, passos pesados atravessavam o mesmo corredor em que o cachorro passara. Dois homens andavam ao lado da moça apavorada sem nota-la.
Eram eles! Os homens que tanto temia!
Com os olhos arregalados a jovem cobriu a boca e voltou a se encolher no canto.

- Ei! Você! - um deles exclamou quando já estava do outro lado do corredor - Viu uma moça de cabelos loiros e curtos passar?
- Só tem meu cachorro aqui, senhor. - respondeu a mesma voz rouca de antes.

O homem que fez a pergunta bufou.
 Ouviu-se o tranquilo som das ondas contra o casco por minutos.
Quando a moça julgou seguro levantar-se dali ouviu novamente as apressadas passadas do cachorro se aproximar junto com seus latidos. Ele tinha voltado e agora latia como se quisesse revelar a localização da estranha à todos.
Ela aterrorizou-se. Se fosse descoberta seria seu fim.


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