sexta-feira, 25 de abril de 2014

“SentiMente” [Semana 05]

Autora: Silvia Verlene

Perdido...
Olho preocupado para RS-3, enquanto tento me sair de seu aperto para fazer algo por ele, que sempre me protege. Estou com a náusea ainda presente e parece ainda pior com a situação de ser um inútil nesta hora de tensão intensa e quase insuportável. “Tudo errado, está tudo dando errado... Por quê?...” E, em ter consciência de tudo, não consigo segurar a forte êmese que me acomete...

Em meio à minha reação, percebo a movimentação de RS-3 se levantando à minha frente, postando-se entre mim e nosso algoz remanescente, com um líquido amarelado escorrendo por seu tronco de titânio, exalando um odor que eu definiria como pútrido, apesar de suave e não se tratar de um ser humano, mas que me deixa ainda mais enjoado, piorando o vômito. O ciborgan não demonstra intimidação mesmo com a preparação de meu protetor em posição de embate corporal, seu único recurso no momento. Nesse instante, nosso inimigo prepara outra rajada de energia em seu brilho avermelhado se intensificando na saída da arma de feixes ao passo que mantém-se em nossa direção, firmemente. RS-3 não demora em se lançar sobre ele, com grande velocidade e precisão, deixando respingar seu fluido em mim, mantendo um rastro deste entre nós. A ação é muito fulgaz: RS-3 alcançando o ciborgan, este disparando um feixe que atravessa o corpo de meu parceiro passando por cima de mim com um zunido agudo rápido e iluminando tudo ao redor. Ouço um barulho metálico às minhas costas, no que, ainda nauseado, busco verificar e vejo quando o corpo do outro ciborgan cai perto a mim, sem a cabeça e mostrando uma estrutura complexa de metais, fibras, fios e uma espécie de gel azulado luminescente que escorre pelo chão espelhado do beco.

Estranho, por que um Ciborgan Governamental haveria de atingir seu próprio suposto parceiro apenas para nos capturar? Até seria explicável, afinal, como a falta de pudor na destruição citadina, tal fato poderia ser uma mera consequência da perseguição. Mas, nesse caso, entra uma outra questão: qual a minha real importância para os Implantários se eu, como um reles Matriz Zero não possuo poder para ser uma ameaça ao mundo criado por eles e sua existência vil – ao menos em minha concepção... Tudo o que desejo é viver, mesmo que afastado do que chamam de Alta-Civilização.

Ao virar-me retornando meu foco para meus parceiro e algoz, este já arrasta RS-3 pela cabeça e não demora em me agarrar, com o mesmo braço que segura sua a arma em posição de gancho, suspendendo-me colado ao seu corpo gélido.

“Eu disse para irmos, não foi?” Ele lança um pequeno cubo ao chão que se desmonta, literalmente, em pixels que formam um portal de luz branca.

“Você pensa alto demais; quero uma viagem tranquila.” Sinto minha cabeça pesar e meu corpo desfalecer quando ele arranca o curativo epitelial de minha cabeça com a boca, lançando-me nova dor fina e insuportável antes de entrarmos completamente no portal.


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