sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Filho das Profundezas [Semana 24]

Autor: Marco Fischer
Parte XXIV - Finta

-Você não sabe com o que está se metendo! – disse a oriental com seriedade, deixando os braços penderem de lado enquanto o monstro crustáceo se inclinava na direção de Violka – Aquele garoto carrega a próxima linhagem de nossa Ordem. Eu recebi a honra de ser sua consorte, e trazer ao mundo uma prole abençoada pelo nosso senhor do mar.

-E então ele te deixou esperando vestida de noiva? Mas que tragédia! – respondeu a capitã, ocultando a ferida que sentia ser tocada dentro de si. Muitos de seu povo não gostavam do fato dela ser uma mulher independente e solteira, e mais de uma família havia se ofendido com a recusa de um pretendente. A liberdade de que dispunha não havia sido conquistada sem um custo, e por isso lhe era tão preciosa.

Violka circulava lentamente de costas pela sala enquanto era seguida pela criatura. Fugir não seria fácil, então teria que ficar e lutar. Mas sua inimiga não precisava saber disso. Sempre com a espada em riste, ela se aproximou da escada e fingiu que tentaria subir. O monstro marinho atacou com sua garra, abrindo a guarda enquanto a capitã dardejava em sua direção como um pássaro veloz.

A criatura emitiu um assovio de dor, recuando desajeitada enquanto seus olhos eram feridos pela ponta aguda da espada de Violka. Seus tentáculos rapidamente agarraram o braço da capitã, tentando puxá-la para as mandíbulas ocultas abaixo deles. Violka sentiu então seus músculos se anestesiarem, tocados por alguma forte toxina secretada pelo monstro.

Usando o calor da batalha para resistir à paralisia, ela agarrou os tentáculos e se balançou na direção da criatura. Um chute certeiro fez o crustáceo assoviar mais alto, esguichando um líquido escuro pela carapaça. A oriental observou intrigada enquanto tentava manter-se equilibrada, o que ficou mais difícil quando outro chute acertou o monstro logo abaixo da cabeça.

Violka já havia analisado a situação. Uma criatura grande e pesada em um salão em ruínas literalmente só precisava de um empurrãozinho. As lâminas escondidas nas suas botas, impulsionadas por molas, eram a melhor carta na manga que possuía. Pego de surpresa, o monstro a derrubou enquanto trombava nas paredes desorientado.

Sem espaço e parcialmente cego, o crustáceo sacudia suas grandes tenazes tentando acertar Violka, mas só o que conseguia era danificar ainda mais a estrutura do lugar, que começava a desabar. Agarrando a lanterna de lótus, Violka correu para as escadas, mas seu caminho foi bloqueado por um jato de ácido fluorescente.

Livre do monstro, a oriental havia usado seus tentáculos gelatinosos para alcançar uma posição mais acima, e já se preparava para lançar outro projétil cáustico contra a capitã. Ela estaria vulnerável na subida, e sem tempo para perder com as ruínas indo abaixo.

Foi o cheiro do mar que fez a capitã ter o impulso de saltar dentro do poço escuro no centro do salão. O cheiro do mar e uma voz que começava a falar em sua mente, e fazia seus olhos se cobrirem de um piche negro.


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