sexta-feira, 4 de julho de 2014

Filho das Profundezas [Semana 15]

Autor: Marco Fischer
Parte XV - Ula-Yhloa

Várias semanas haviam se passado desde que o Hummingbird havia partido das Ilhas Kupuna. Durante esse tempo, Violka e Pesha, os únicos capazes de conversar com o Maleko em seu idioma aquático, tentaram descobrir mais sobre sua origem, sem muito progresso. O garoto não se lembrava de sequer já ter visto alguém como ele, e pelo que Pesha verificara em seus livros, não havia qualquer indicação de qual poderia ser sua espécie, mesmo com tantas raças marítimas catalogadas pelos naturalistas do Império.

Todo o interesse dos Arautos do Vapor fazia mais sentido para ele agora, assim como o de sua capitã. Porém, ao contrário de Faulkner, Violka via o garoto-peixe como um indivíduo a ser ajudado, não uma simples cobaia a ser estudada. Pesha não podia deixar de admirar a nobreza de coração da mulher, embora seu bom tratamento estivesse dando muito resultado. De certo, Violka também estava interessada na ilha de Ula-Yhloa, para onde a misteriosa criatura parecia conduzir, e lá ele com certeza encontraria material digno para uma publicação científica. A tripulação iria protegê-lo de qualquer perigo, e quando retornasse para a Real Academia o Império teria que aceitar respeitá-lo como um estudioso de origem cigana.

Foi em uma manhã de Setembro que Chuva de Outono finalmente alcançou as coordenadas do mapa estelar e avistou a ilha na distância. A elfa estava empolgada em finalmente conhecer o que poderia ser a casa de seu novo amigo. Talvez houvesse outros como ele lá, escondidos do resto do mundo naquele lugar isolado. Eles eram espertos, ela pensou com um pouco de tristeza, lembrando-se da degradação e escravidão que seu povo havia sofrido nas mãos das nações humanas. Haviam pessoas que eram boas como Violka, mas apesar de ter coberto as marcas com os desenhos bonitos de suas tatuagens, as cicatrizes do que havia passado no cativeiro antes de ser resgatada ainda doíam na sua pele e na sua alma.

De longe, Ula-Yhloa já chamava atenção pela estranha formação rochosa que se destacava em seu centro. Era um bloco de pedra em forma de trapézio, desgastado pela ação do vento e coberto por algo que na distância parecia vegetação. Rochedos de aparência rugosa o cercavam na água, que tinha uma cor entre o esverdeado e o púrpura. Não havia nenhum sinal de aves marinhas fazendo seus ninhos ali, o que era estranho, mas ao entrarem em águas mais rasas os tripulantes avistaram cardumes inteiros de águas-vivas e arraias nadando entre corais de aspecto esbranquiçado.

Agora que o Hummingbird estava mais uma vez velejando pela água em busca de um lugar para aportar, Violka julgou perigoso avançar e decidiu baixar âncora ali mesmo, decidindo avançar com Pesha em um bote até a ilha para fazer um reconhecimento. A capitã preferiu não preocupar os demais com algo de que não estava certa, mas havia coisas em Ula-Yhloa que pareciam simplesmente erradas. Ela não sabia descrever o que era, mas o fato é que aquele lugar definitivamente não conseguia lhe passar uma boa impressão.


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