quinta-feira, 10 de julho de 2014

Contos do Amante da Morte [Semana 16]

Autora: Mari-Youko-Sama
Capítulo 14 – Sorte e Azar.

Fogo alto que alcançava um céu noturno alaranjado, vultos de pessoas simplesmente desapareciam na fumaça, tudo era nebuloso e distante, até a imagem de Solomon surgir e sua garganta ser transpassada por uma lança que se estendia e esticava como se fosse infinita e pudesse alcançar qualquer coisa.

Marcos despertou e ao se apoiar com o braço direito, sentiu uma dor aguda vinda de seu ombro e caiu de costas novamente sobre palha mofada. Não teve tempo para raciocinar sobre o que estava acontecendo, logo um homem alto e calvo, portando uma espada, puxou a corda que se ligava ao corpo de Marcos, fazendo-o titubear para frente e sentir ainda mais dor:

– Senhor Magnhild quer falar com você, caminhe! – puxou-lhe como se estivesse guiando um animal.

Não demoraram até chegar à construção principal feita de rochas únicas que resistiu bem ao incêndio. Ao entrar, Marcos foi golpeado atrás dos joelhos, que o forçou a se curvar e embora com o olhar baixo, conseguia sentir cheiro de comida e vinho, suas estranhas responderam ao estímulo, mas o jovem Blackwood não saiu do lugar.  Quando foram deixados sozinhos, a outra figura que estava se alimentando na outra ponta do salão finalmente se pronunciou:

– Está com fome? – a voz, apesar de grave, mantinha um timbre suave. – Deve estar, afinal, passou um dia desacordado. Eu sou Gernot Magnhild, responsável pela comitiva de Eadgar.

Logo o outro caminhou e, ao se aproximar, sacou uma faca da cintura que fez com que o jovem Blackwood gelasse, mas esta foi guiada até as cordas que prendiam o corpo de Marcos, libertando-o.

– Não precisa ter medo, o pior já passou – o maior comentou em tom zombeteiro, enquanto guardava sua faca. – Preciso que tenha disposição, a mesma disposição com a qual arremessou aquele machado em mim.
Marcos finalmente ergueu a cabeça, deparando-se com um homem de cerca de trinta anos, de fios negros, barba aparada e olhos castanhos amarelado. Apesar da expressão mais suave, o jovem Blackwood não conseguia fugir do olhar inquisidor daquele homem:

– Por que… me deixou vivo? – as palavras saíram em um tom baixo.

– Não fui eu que lhe deixei vivo. – um sorriso se formou no canto dos lábios – Você que lutou para se manter vivo.

– Eu não entendo… – Marcos estava atônito, o outro não parecia ter sido atingido, até seu ferimento no ombro tinha sido porcamente cuidado, alguém quis que ele ficasse vivo.

– Não sei dizer se foi sorte ou benção divina, mas seu machado me fez errar sua garganta, então… aqui está você. Como se chama rapaz?

– Blackwood… Marcos Blackwood. – comentou, enquanto tomava forças para se levantar.

O maior sorriu em resposta à ação de Marcos, que àquela altura começava a entender o porquê de ter sido mantido vivo.

“Quando um inimigo convida para uma refeição, tenha certeza que a batalha não acabou, apenas tomou outra forma para o conflito. Guerra de palavras são sempre as piores, porque elas decidem sobre as físicas.”


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