sexta-feira, 25 de julho de 2014

Filho das Profundezas [Semana 18]

Autor: Marco Fischer
Parte XVIII - Água-Viva

-Como conseguiu cortar meus braços com esse alfinete? – sibilou a oriental da Ordem do Peixe Diabo enquanto novos tentáculos cresciam através das largas mangas de seu vestido. Violka desviava com graciosidade da floresta de cipós venenosos que tentava agarrar seu corpo, enquanto Pesha apenas observava com lágrimas nos olhos, tremendo com a dor das queimaduras de água-viva.

-Antes de te responder, é bom que pense em uma maneira de me dar satisfação por ter machucado um membro de minha tripulação, monstrenga. Ou vou cortar bem mais do que seus braços. – Violka não estava só provocando dessa vez. Ela estava séria sobre isso. Sua tripulação era como sua família, e machucar aqueles que compartilhavam de seu caminho era uma ofensa difícil de perdoar.

-Vocês estão de posse de uma criatura que nos pertence! – gritou a mulher dos tentáculos enquanto os girava e sacudia tentando acertar a capitã, de forma parecida com a de alguns artistas marciais quando usavam longos chicotes ou fitas.

-Ele não é posse de ninguém! – rebateu Violka após esquivar dos golpes com uma veloz acrobacia, dardejando como um colibri até conseguir se aproximar mais e cortar os dois feixes de tentáculos quase rentes às mangas da outra mulher. – Seu veneno pode ser potente, bruxa do mar. Mas seus braços são tão frágeis que se desmancham até mesmo com a batida de asas de um passarinho.

-Patético! Então acha que pode nos enfrentar e adotá-lo como um órfão qualquer das docas? Porque você acha que pode fazer isso? Capricho? Ignorância? Ou você acha que é algum tipo de heroína o salvando de um destino que nem mesmo compreende?

Violka apenas ergueu a cabeça e colocou a ponta da espada sobre o pescoço da bruxa do mar, sorrindo enquanto respondia.

-Nenhuma dessas coisas. Para mim, ver a expressão de frustração no rosto de alguém que julga poder controlar outra vida é o suficiente.

Violka sentiu algo se mover sob a ponta de sua lâmina, e conseguiu recuar bem a tempo de se proteger do jato de gosma ácida que a oriental cuspiu em sua direção. Aproveitando a distração, a mulher fugiu para o interior da construção na ilha, desaparecendo na escuridão.

-Pesha. Você deve voltar ao navio. – disse a capitã embainhando a arma e olhando com preocupação para o rapaz ferido. – Eu vou segui-la e descobrir o que afinal está acontecendo aqui.

O naturalista assentiu com a cabeça, terminando de abrir sua bolsa e derramando vinagre sobre as queimaduras para neutralizar o veneno. Cada movimento era uma careta de dor, e ele definitivamente só atrasaria Violka se resolvesse ir com ela.

-Só espero que sobre algo que eu possa apresentar para a academia. Já foi muito arriscado vir até aqui. Sair com as mãos abanando seria uma catástrofe científica.

Violka apenas sorriu e balançou a cabeça enquanto ele descia a trilha de volta para a praia. Então respirou fundo e adentrou as ruínas de Ula-Yhloa, preparada para lidar por si mesma com o que quer que estivesse esperando lá dentro.


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