sexta-feira, 18 de julho de 2014

Filho das Profundezas [Semana 17]

Autor: Marco Fischer
Parte XVII - Anfitriã

-A Ordem do Peixe Diabo? – murmurou Pesha, buscando em sua mente o que sabia sobre esse nome. Não lembrava mais do que breves anotações, sobre um grupo do Império Ming que afirmava derivar da Ordem Esotérica de Dagon, um culto místico espalhado por todo o mundo que não era levado a sério como doutrina, mas possuía em suas fileiras criaturas e fórmulas mágicas dignas de curiosidade e espanto científico.

Eles usarem aquela ilha isolada como base não era uma grande surpresa na verdade, considerando que Ula-Yhloa ficava entre as Ilhas Kupuna e as Nações do Oriente. Mas era sem dúvida algo desagradável de se descobrir, afinal se tratava de gente lunática e perigosa. Receoso, Pesha recuou se protegendo atrás da capitã. Ele queria uma tranquila pesquisa de campo naquele lugar, não uma aventura contra cultistas insanos.

Violka, por sua vez, permanecia em posição de guarda, estudando a bizarra anfitriã com o olhar. Ela já parecia preparada para aquele encontro, e quando falou não havia nenhuma comoção em sua voz.

-Então é aqui que fica a toca onde estavam se escondendo. Se tivessem me avisado eu poderia ter mandado uma carta antes, se bem que duvido que o serviço postal chegue até aqui... – a capitã sorria enquanto provocava, fazendo com que a oriental ficasse séria e cruzasse os braços, encarando Violka com descrença.

-Pelo visto a nossa presença nos últimos portos em que esteve não passou despercebida. Admiro sua perspicácia, principalmente por ter decifrado o “mapa” que a trouxe até aqui, mas seu papel nessa história é pequeno como um grão de mostarda, capitã. Apenas devolva o que é nosso e iremos poupar sua tripulação.

Pesha arrumou os óculos em seu rosto confuso. Desde quando a Ordem os estava vigiando? Desde o início da busca de Violka pelo Maleko e por Ula-Yhloa, talvez? Há quanto tempo? Meses? E era o Maleko que queriam de volta? Por isso ele estava fugindo? Não teve tempo para outras perguntas antes que a capitã puxasse a espada e algo viesse em sua direção, agarrando seu pescoço.

Uma dor lancinante e ardida percorreu seu corpo como um choque elétrico. Era como várias finas agulhas penetrando sua carne de uma só vez e fazendo seus músculos convulsionarem. Lutando para respirar, ele viu que aquilo que o estava segurando era um tentáculo azulado e transparente, saído de uma das mangas do vestido da mulher. Por reflexo, ele agarrou o apêndice gelatinoso e a mesma sensação dolorosa percorreu seus dedos. Pesha gritou e caiu de lado, mas quando se debateu o tentáculo afrouxou, e ele facilmente se libertou do aperto.

Ainda deitado e estremecendo com a queimadura venenosa, ele viu que o tentáculo jazia no chão decepado, cortado pela fina espada de Violka. Outro apêndice, que provavelmente havia sido lançado contra a capitã, também havia sido arrancado de sua dona. Sem parecer se incomodar com os braços que havia perdido, a oriental lançou uma saraivada de novos tentáculos, enquanto a capitã investia contra ela com os olhos em brasa.


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