sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Contos do Amante da Morte [Semana 22]

Autora: Mari-Youko-Sama
Capítulo 18: Diga Adeus.

O poente assumia seu aspecto característico, banhando o bosque de folhas secas com uma luz intensa que distorcia as sombras tornando-as delgadas e sinuosas. Aquela figura feminina de manto escuro mantinha-se a espreita, distante de Marcos, embora este, ainda surpreso de ter reencontrado Apony mais cedo do que previa, voltasse sua atenção completamente na direção da moça:

– Não imaginei que já estivesse esperando meu retorno – caminhou, desvencilhando-se das raízes altas e arbustos secos – como sabia que eu chegaria hoje?

A mulher apenas acenou positivamente, virou-se e caminhou sem dificuldade pelo terreno acidentado deslocando-se rumo ao interior do bosque. A luz do dia despencava às costas dos dois, deixando Marcos para trás sem compreender o gesto da outra.

Este, por sua vez, teve o pé completamente enlaçado por arbustos, se desequilibrando e caindo. Para sua surpresa, tinha saído finalmente da parte mais densa do bosque, mas tinha perdido Apony de vista.

Quando a luz do dia deu lugar a noite, o jovem Blackwood pode delinear um ponto laranja luminoso adiante, que deixava uma pira de fumaça ascendente. Fosse quem fosse, era uma boa oportunidade de pedir fogo e depois retornar para seu cavalo, deixado ao lado da figueira seca. Logo ao se aproximar, o moreno pôde captar o aroma de ervas conhecidas, as mesmas que seu irmão normalmente usava. Chegando ao local, parecia ter havido algum tipo de ritual: manchas de ervas, vinho e sangue.

As sombras balançavam conforme as chamas se moviam e em meio aos objetos largados, Marcos percebeu a carcaça de um animal, a expressão se contorcendo em terror e angústia. O jovem reclinou-se e tocou com cuidado o corpo do animal que ainda se mantinha quente:

– Dê um oi para Marcela e Miguel por mim… – as palavras soaram doces e enquanto afagava o pelo amarelo escuro do animal, o jovem Blackwood percebeu que o lince tinha sido recém abatido, notando em seguida um fraco rastro de sangue.

Marcos não compreendia com exatidão o que estava acontecendo, o lince estava vivo antes do entardecer. Tinha certeza que aquele era Lirou, aquela mulher com certeza era Apony, quem mais seria? Agora o animal estava morto e ela tinha desaparecido.

E novamente parecia que a morte queria lhe pregar uma peça, brincando com aqueles que lhe eram preciosos. O jovem Blackwood puxou uma das madeiras em chama, improvisando uma tocha, e seguiu os rastros.

Havia muitos temores rondando seus pensamentos, mas o pior deles era não ter a certeza se poderia fazer algo para proteger seu irmão caçula, que em todo aquele circo, era o único que ainda não tinha aparecido.

“Os homens com certeza fazem coisas idiotas, todo o tempo, principalmente quando acreditam que têm a mínima capacidade de se opor a um fato. Mas tão certo como a chuva de verão, um homem nada mais é do que um simples expectador de sua vida, vendo como a morte brinca com tudo em que possa deteriorar até virar pó. Somos apenas coadjuvantes, de passagem pífia e insignificante.”


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