sexta-feira, 27 de junho de 2014

Contos do Amante da Morte [Semana 14]

Autora: Mari-Youko-Sama
Capítulo 12: Averno Laranja

A lua cheia era encoberta por uma grossa camada de nuvens, tornando a escuridão noturna berço fértil para o medo que crescia no coração daqueles que estavam no posto de Súlinm. O zunido das flechas rompendo o ar e cravando-se à estrutura de madeira fazia os homens recuarem da linha de frente brevemente. Solomon gritava para manterem suas posições e enquanto os arqueiros despejavam suas flechas contra a linha inimiga que se aproximava lentamente, Marcos se organizava na fila de homens e escudos junto ao portão principal.

Logo o jovem Blackwood notou um aroma diferente impregnando o ar, mas não houve tempo para raciocinar sobre o que se tratava: entre berros de ordens de Solomon e de injurias ditas pelos homens aos soldados de Eadgar, urros de dor eram audíveis. Logo um homem caía da murada ao lado de Marcos, gemendo de dor e engasgado com o próprio sangue, a flecha fincada em seu peito, atravessando seu pulmão. O moreno foi tomado por um terror sem tamanho, no entanto, seus olhos não conseguiam fugir da imagem daquele arqueiro ao seu lado definhando com uma flecha de madeira negra, e foi naquele momento mórbido entre o medo da morte e a contemplação que o jovem Blackwood teve um estalo:

– Afastem-se do portão!! – anunciou com urgência, mas sua voz não alcançou a todos.

Logo em seguida, o céu noturno se iluminou em tons laranja com flechas incendiárias fincando-se na estrutura de madeira e, junto as flechas embebidas em líquido inflamável lançadas anteriormente, somado ao verão mais seco e quente em anos, assim como uma murada construída quase em sua totalidade de madeira, não demorou para as chamas se espalharem.

O desespero se alastrou tão rápido quanto as labaredas, os homens que cuidavam do portão principal o abriram para deixar as pessoas fugirem das chamas, a linha de homens e soldados se desorganizou e vazou do posto pelos portões entreabertos, saindo do fogo para encontrar a morte.

A linha do exército de Eadgar ceifou sem trabalho aqueles que corriam para o exterior, cercando todas as formas de saída, sendo assim, eles não precisavam avançar, deviam apenas esperar. Aqueles que ficassem dentro do posto morreriam queimados, e aqueles que saíssem seriam assassinados.

“O conceito de inferno é diferente, dependendo da divindade que se segue: uns pregam que é um submundo vazio para explanação dos erros, outros dizem que é frio e tortuoso, cheio de espinhos e espectros tentando-o a cair no esquecimento… mas sejamos francos, naquela noite, eu pude vislumbrar o inferno, não como algo de explanação ou simples sofrimento, mas o terror, o medo, e a incapacidade de poder fazer algo por mim e por qualquer outro, a triste sensação de que é o fim, e não haverá nada para ser encontrado ou nenhum lugar a chegar... Certamente, até para alguém como eu e o que sou atualmente, isto ainda é uma versão bem mais convincente do inferno do que qualquer conto dito por um clérigo.”


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