sexta-feira, 6 de junho de 2014

Contos do Amante da Morte [Semana 11]

Autora: Mari-Youko-Sama
Capítulo 10 – Ventos do Norte

Nas terras mais ao norte no Cerco de Súlinm, o calor era sentido com muito mais ferocidade que nas distantes colinas do Sul do Cerco de Haldris de onde Marcos viera. No posto onde tinha sido enviando passava os dias fazendo serviços ordinários, como tapar buracos na barreira feita de traves de madeira, ou cavar sulcos nas áreas externas a barreira, embora ouvisse dos outros soldados que todos aqueles pequenos trabalhos eram importantes para a guerra, Marcos sabia que todos estavam felizes pelas linhas do extremo norte serem capazes de conter os avanços vindos do Cerco vizinho de Eadgar.

Por isso não havia muito que fazer para se ocupar. Afora o horário da manhã, onde era obrigado a treinar com os espadachins e servir de chacota aos guerreiros mais velhos por sua pouca perícia com espada, tinha de alimentar cavalos e fazer reforços em todo o posto e nas adjacências. Mas naquele dia, Marcos estava no grupo de obtenção de comida, caminhava por horas a fio nas redondezas, abrindo trilhas, caçando animais que já estavam escassos nos arredores e recolhendo ervas e demais plantas comestíveis.


“Nunca me esquecerei daquela sensação, quando avistei a coluna de fumaça e quando o vento mudou de direção trazendo aquele aroma inconfundível… e o terror da morte.”


Quando Marcos avistou a coluna de fumaça a distância, sabia que ali era a primeira torre de vigilância e logo uma sensação de medo lhe acometeu. Poderia ser apenas um incêndio comum, mas em seu âmago sabia que precisaria correr. Quando retornou ao posto, as notícias já tinham chegado junto a um falcão: era realmente um ataque.

Da murada principal era possível ver o estandarte Laranja com o brasão de lança e espada cruzadas, das terras de Eadgar. Junto a este, uma fileira enorme de cavalos se alinhava na parte superior da colina, a sombra daqueles homens montados encobriu a luz do sol que se punha atrás do exército inimigo.

Marcos sentia suas mãos tremerem, seu coração estava na garganta e suor escorria pela testa, seus olhos percorreram o horizonte. O moreno cerrou o punho, a ponto de sentir as unhas na carne da mão, e amaldiçoou mentalmente a covardia em seu espirito. Quando uma voz rouca rasgou o silêncio em uma ordem seca:

– Peguem suas armas e escudos! Assim que o sol se pôr, atacarão. E daremos a eles as boas-vindas de Súlinm.


“Dizem que enquanto se está vivo, é a constante busca pela felicidade que mantém a esperança para encarar o dia de amanhã, mas na verdade, tudo isso é balela. As memórias mais fortes são as mais aterrorizantes, dias de fome e frio certamente tornam-se pesadelos recorrentes, mas o verdadeiro terror está na morte iminente. E é esse medo que faz cada ser vivente se agarrar como um verme à vida. Os dias obscuros de guerra são recordações tão presentes que ao fechar os olhos, todos os aromas e sensações retornam como se eu ainda estivesse vivendo aqueles momentos.”


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