sexta-feira, 2 de maio de 2014

“SentiMente” [Semana 06]

Autora: Silvia Verlene

Reviravolta...
Luzes incandescentes de um meio insípido de energia aleatória disformemente colorida, em movimentos desconexos nauseantes. Era mesmo pra eu estar tendo toda esta sensação? Tudo o que me lembro acabou de ocorrer e não acredito realmente ter acontecido. Estava tudo certo, apesar do grande risco que corríamos, RS-3 e eu, desde o início, há 6 semanas atrás. A forma como ele me abordou naquele laboratório, apresentou-se e retirou-me de lá tão naturalmente, mesmo que isso parecesse impossível para um ciborgan... Porém, de todos os que já conheci em minha ínfima vida temporal, definitivamente ele foi o único que se mostrou realmente disposto a fazer algo diferente, ajudando a um incomum como eu. E até hoje me pergunto o porquê, uma vez que ele mal diz algo, até fazendo questão de ficar mais calado do que falante, exibindo-me sua voz serena e inacreditavelmente humanizada, apesar de levemente robótica.

"Tudo tem uma razão." - é a única frase que se repete de sua boca quase sempre estática, tanto que, se não fosse por essas poucas palavras, eu diria que ela nem existiria.

Desde o início ele foi um protetor cuidadoso, com objetividade em suas ações, mesmo que estas me machucassem física ou de outra forma qualquer. O fato é que me culpo por ele se encontrar no estado deplorável atual...

Aquela cena ao vê-lo no chão, levantando-se para me proteger e sendo atingido ainda mais gravemente não me sai da mente e este torpor iluminado da viagem pelo portal só me traz ainda mais desconforto e angústia. Será que ele está mesmo aqui também sendo carregado ao meu lado ou tudo foi só uma impressão antes de entrarmos no portal? Ou será que pode ter sido um engodo de nosso inimigo para me deixar ainda mais entregue à captura, na crença de que, com RS-3 ao meu lado, eu ficaria mais seguro e confiante? E por que eu sinto isso quando estou com ele, de verdade? Será que me sinto assim tão solitário?...

Tento definir uma visão de nossa situação, mas não consigo. É muita luz pra minha visão e cabeça ainda dolorida das últimas pancadas. Meu corpo também não consegue se mexer; aliás, neste exato momento, nem sinto que possuo um! A grande questão afora a preocupação com meu parceiro é nosso destino. Pra onde estamos sendo levados? Será que chegamos ao fim de nossa tentativa?

Sinto um forte impacto repentino, como se estivéssemos em alta velocidade e parássemos de uma vez. A luz se torna amena e uniformemente azulada enquanto sinto meu corpo, aos poucos, ainda envolto pelo braço de nosso algoz, percebendo, com alívio, que ele também ainda carrega RS-3 do outro lado. Pixels ainda flutuam às nossas costas quando ouço a voz do ciborgan inimigo:

"Pois bem, meus caros, chegamos!"


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