sexta-feira, 16 de maio de 2014

Contos do Amante da Morte [Semana 08]

Autora: Mari-Youko-Sama
Capítulo 07 – Trilha sem volta.

O frio perde força à medida que a primavera se antecipa, as figueiras deixam as finas camadas brancas se esvaírem por seus galhos à medida que novos brotos começam a se formar. A neblina matinal que recobre as colinas de plantio segue lentamente como uma procissão dos mortos do inverno e poucas pessoas vivas caminham de volta ao seu trabalho nas lavouras.

Marcos agora seguia por entre as trilhas abertas na mata por ele mesmo em dias passados, aos seus pés, o lince Lirou se entretinha com algum inseto que saia de sua hibernação. Marcos abriu um singelo sorriso ao ver o animal não mais tão pequeno saltando e correndo. Subitamente o lince parou, erguendo as orelhas em sinal de atenção, os pelos de seu corpo ouriçaram em um grunhido hostil. Marcos focou sua atenção e logo pôde ouvir passos pesados se aproximando, um pequeno grupo de três ou cinco pessoas provavelmente.

Ele se esgueirou da trilha para a floresta, escondendo-se entre raízes recobertas de musgo e arbustos de amoras que se recuperavam do inverno. Lirou o seguiu e manteve apenas as orelhas de pelo escuro erguidas. Não demorou muito para que três homens adultos, vestidos em cotas de malha e portando espadas na cintura, seguissem pela trilha. Dois deles tinham a pele clara e cabelos escuros, o que significava que eram da região, no entanto, o terceiro tinha o cabelo castanho avermelhado, o que indicava que vinha do extremo norte do continente Rubro.

Marcos não era um ladrão, mas em seu íntimo sabia que precisava se esconder e quando fitou o rosto duro e escuro daquele ruivo, sabia que tinha feito certo em seguir seus instintos:

– Será um grande problema, senhor. – o mais baixo, que caminhava um passo atrás de todos, reclamou. – Não sobraram muitos homens úteis nesses vilarejos.

– Soube do templo que 2/3 das pessoas da região morreram por causa da peste – um dos homens, que não tinha um olho, completou.

– Não é a toa que o Infante deste cerco regional pediu auxílio ao nosso senhor – retrucou o mais baixo – se não tivermos homens para recrutar desse cerco, o esforço não terá valido a pena.

O ruivo parou e por longos minutos observou em volta, Marcos sentia todo o sangue gelar, embora seu coração pudesse ser sentido na garganta. Os outros dois homens repetiram o gesto de seu líder em observar, mas nada avistaram, até que o homem caolho finalmente se pronunciou:

– Então, o que faremos, senhor Solomon? – Dirigiu-se ao ruivo.

– Temos uma ordem. – a voz era rouca e dura, como a face do sujeito. – Todos os homens com idade serão recrutados, isso não é uma escolha, os que não forem são apenas desertores, o sangue dos Regentes mostrou-se fraco perante a peste, então o que nos resta é a guerra.

O ruivo Solomon voltou a caminhar pela trilha, seguido de perto pelos outros dois homens em direção ao vilarejo.

“A guerra… glorioso derramamento de sangue, onde nenhum dos lados está certo e nenhum dos lados vence!”


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